quarta-feira, 14 de outubro de 2009

...Kayongo, Bamburucema, Matamba...

Demorei de postar, devido a correria do dia a dia; mas estou de volta! Analisando os textos que até aqui já foram postados, me deparei com uma realidade um tanto quanto pitoresca: Não falei nada ainda sobre minha mãe! Impossível! Tentarei me regenerar através deste texto, deixo bem claro que o mesmo fala de coisas que sei, do que ouvi falar dos mais velhos e se algo estiver divergente do que conhece, pode comentar. Não custa nada aprender sempre, não é verdade?


Espero que gostem, um forte abraço!



Kayongo - s.f. Espírito feminino que constitui uma das mulheres de Mutakalombo. Entidade espiritual conubiada com essoutra entidade espiritual. Termo quimbundo.

fonte: -- Dicionário de Regionalismos Angolanos, pág. 140 -- de Oscar Ribas - Editora Contemporanea.

Falando sobre o que leu, no livro "Se isto é uma cesta" de Sônia Silva, Ramon Sarró descreve o que leu sobre Kayongo: "Entre os Luvale, só poderão ser adivinhos aqueles que sofreram de uma determinada doença cuja cura tenha envolvido a possessão dos seus corpos por Kayongo, o espírito da adivinhação. A possessão e a capacidade divinatória constituem a sua cura - porem, sempre que tente abandonar a adivinhação, o homem será novamente acometido pela doença. Kayongo, um espírito metaforicamente associado ao vento, é também o espírito que toma posse da nova cesta de adivinhação mediante a transferência das peças da antiga lipele para a nova".
[texto disponibilizado no site:

Essas informações ratificam justamente o que eu aprendi com os mais velhos no Candomblé de Angola, as mesmas dizem que Kayongo seria a esposa de Mutakalombo e o espírito da adivinhação e seria associada ao vento. Em algumas casas, Kayongo, é o fogo da terra, a parte ígnea da terra; principio por onde passam todos os caminhos que têm relação com este elemento primordial, fogo em brasa, em lavas.

Kayongo tem ligação com Ntoto uá Zaba [as profundezas da terra que se comunica com o céu], nos domínios do Nkisi Nsumbu, com quem compartilhou grandes segredos, os quais somente ela conhece e a ela pertence. Mais a cima dessas terras profundas, também tem ligação com Kavungo, onde nesses domínios, as cavernas, visita com suas ventanias, é bem vinda e festejada.


KAYONGO É A GRANDE SENHORA DO FOGO PRIMORDIAL, DAS BRASAS DO INTERIOR DA TERRA, enquanto Nzazi é o grande Senhor do Fogo Cósmico que rasga os céus desde os tempos primordiais.

No momento em que a terra iniciou o seu resfriamento, surge a fumaça [não uma fumaça qualquer, mas uma fumaça das brasas vulcânicas, resultantes do processo da criação deste mundo]... é a energia de Kayongo se transmutando, criando caminhos... Fumaça é a representação do ar, do vento na forma mais simples e elementar da Criação. A natureza se transmuta em fumaça primordial e cria novos caminhos sem contudo perder a sua ligação com o fogo do centro da terra. Mas... FOGO É FOGO, FUMAÇA É FUMAÇA.

A nuvem da fumaça, o seu movimento, sua presença em florestas, em lugares húmidos, nos reporta a imaginar a forma das almas dos antepassados da humanidade.


Desta forma, Kayongo está ligada à criação do mundo, tendo sua própria natureza associada aos VENTOS e como consequência a existência dos redemoinhos de ar e tempestades. No kongo quando ocorrem tempestades e tudo fica em trevas, o povo, para dissipar o estado atmosférico tão carregado, realizam rituais.

Para os Luvale, sem o vento, eles, não receberiam a visita dos espíritos, principalmente em seus sonhos.
Porém a Natureza não para de de se transmutar para GERAR NOVOS ELEMENTOS, NOVOS CAMINHOS.


Com as mudanças climáticas, previsíveis no processo de formação da terra, chegaram as CHUVAS [ela vem da evaporação devida ao ar quente sobre as águas dos rios, dos lagos, poças. No encontro das camadas de ar frio, com ar quente as poeiras da atmosfera se condensam e desaparecem, ocorrendo a precipitação.].

Através desta transmutação da natureza e sem perder o seu principio original abre-se o caminho para UAMBULU NSEMA [BAMBURUCEMA] - a grande SENHORA DOS FENÔMENOS ASSOCIADOS A SOBRECARGA NA ATMOSFERA, de calor, humidade e vento, resultando em TEMPESTADES DE CHUVA, RAIOS E TROVÕES.






MATAMBA, enquanto mito, possivelmente advém do imaginário do povo africano bem mais recente. Sobre a existência e localização do Reino de Matamba: "o lugar conhecido no século XVII por 'Santa Maria de Matamba', justamente no local onde a soberana Njíngà à Mbàndè, baseada na ideologia túmúndòngò, mandou construir uma 'cidade real' foi erguida a Igreja de Santa Maria, pelos padres capuchinhos, tendo sido de conhecimento de Padre Cavazzi de Montecúccolo, que a ela se referiu na Istorica descrizione (1667)" [Historiografia sobre o Reino de Ndòngò no contexto da História de Angola - Lisboa 2000 - Virgilio Coelho]

MATAMBA era uma vasta região na localidade denominada KÁZÀNGA NÀ LÙNDÀ, situada entre vários rios.

Na revista: Estudos AFRO-Asiáticos 32 - dezembro de 1997, Virgilio coelho relata que o Ngola á Musundi chegou em uma vasta região que se estendia desde o território do interior do sertão [das matas] até o mar, e juntou muitos parentes, sendo que mais tarde levado por condições geográficas, o povo do mato se destinguiria dos Ndongo, e o termo túmbà, pl. mátùmbù, que antes significou unidade, se ampliaria para designar "aqueles que não são como nós e que não vivem em nosso seio". Por corruptela surgiu o termo MATAMBA!




TUASAKIDILA MATAMBA, KAYONGO, BAMBURUCEMA
[ MATAMBA, KAYONGO, BAMBURUCEMA SEJAM LOUVADAS]

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